"Me corta o coração eles
quererem um pão e eu não ter. Já coloquei os meninos na escola pra isso mesmo,
por causa da merenda. Um pouquinho de arroz sempre alguém me dá, mas nas férias
complica", afirma Alessandra, que, desempregada, coleta latinhas na favela
de Paraisópolis, em São Paulo, onde mora. No dia da entrevista à BBC News
Brasil, os filhos de Alessandra iriam recorrer à casa da avó para conseguir se
alimentar.
O drama de Alessandra não é
incomum. As férias escolares - quando muitas crianças deixam de ter o acesso
diário à merenda - intensificam a vulnerabilidade social de muitas famílias em
todo o país. Embora variem em conteúdo e qualidade - às vezes são apenas
bolacha ou pão, em outras, são refeições completas de arroz, feijão, legumes e
carne - as merendas ocupam função importante no dia a dia de certos alunos.
Para essas crianças, nos períodos sem aulas é que a fome, uma ameaça ao longo
de todo ano, se torna uma realidade a ser enfrentada.
No Paranoá Parque, conjunto
habitacional do Minha Casa Minha Vida que fica a 25 minutos de distância do
Palácio do Planalto, em Brasília, as crianças passam os dias livres empinando
pipa, de estômago vazio. "No final da tarde, elas me pedem, 'tia, tem um
pãozinho aí para mim?' Se chega pão de doação, acaba tudo em um minuto",
conta Maria Aparecida de Souza, líder comunitária no bairro.
Foi ali que, em 2017, um menino,
na época com oito anos, desmaiou de fome durante as aulas e virou notícia
nacional. Ele estudava em um colégio a 30 km de distância de sua casa, onde
recebia como refeição apenas bolacha e suco. De lá para cá, a situação dos
quase 30 mil moradores da área não parece ter melhorado.
BBC BRASIL
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